Quem sou eu

Minha foto
Teresina, Piauí, Brazil
Ah! Meu coração é mole/ Feito língua de moça./ Prefiro a calma a usar a força,/ Que carne de gado criado em morro é muito é ruim:/ Dura danada.// No bombardeio ergo sempre a bandeira branca,/ Cor que cedo não quero em minha trança,/ Mesmo que digam que é experiência.// Antes mesmo de tantos lamas e Ghandi,/ Foi que se inventou a calma dos monges./ Apesar dos últimos incidentes no Tibete. - Tapuia. Mestre em Letras/Linguística pela UFPI. Professor. Arre(medo) de poeta. Artista (de)plástico nas horas vá(ri/g)as. Aquele que nasceu no rio.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SINUOSA

Seminua,
Se insinua.
E se nua
É pior.


Belém, 26/11/2009.

domingo, 8 de novembro de 2009

TODA-ATRATIVA (Poema ao riso de uma moça)

Moça, não ria para qualquer um na rua.
É muito perigoso! Sandice completa!
Vai que se trata de um poeta!
Aí a culpa será, certamente, toda sua.

Caso se esteja triste, fica-se contente.
São vocês, oh moças, quem compõe um poema!
Nosso único trabalho é manusear a pena.
E um riso assim é um dia dado à gente.

É como a mão daquela professorinha
Que calmamente nos alfabetiza
Quando ainda desobedecemos à linha.

Ah! Com um (só)riso você se torna poetisa!
E o poema virá, tão certo como um pedido
A uma estrela que tenha do céu se desprendido.

Belo Horizonte, 08 de novembro de 2009.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

UM SER SEM BANDO

Presa que sou, porém ando
No meio da manada
Fingindo ser do bando.

Mas além disso é nada!

Volta e meia, uma rosnada
Para fingir de vez em quando.

Presas afio,
Cuido das garras,
Pego fêmea no cio,
Faço cara de marra...

Mas, às vezes, o vento sorrateiro
Quase leva minhas vestes de leão.
E, assustado, torno a encobrir, então,
Minhas patas de cordeiro.

E me fundindo vou,
Fugindo
E fingindo
Ser predador.

Belo Horizonte, 04 de novembro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vinícius

...
CÁ, SÓ...
CASO.
CASO?
CASO!

OCAS.
ASCO.
CAOS.
SOCA,
SOCA...

SACO!

SACO.

CÁ, SÓ?!
CASO!
...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

As mesmas coisas

Cá estou eu a te falar novamente,
Numa repetição decerto já quase vã,
As mesmas coisas que te disse ontem,
As mesmas coisas que te direi amanhã.

A mesma saudade em tudo o que faço,
E por isso mesmo o mesmo desejo.
Enquanto lembro teu corpo, o mormaço;
Enquanto em todo o meu corpo relampejo.

E sei, amor, que só te direi diferente,
Ainda que as mesmas coisas, como sempre digo,
Quando, nos braços abraços, eu estiver contigo.

Então as mesmas coisas te direi, certamente.
Mas com o meu corpo todo, enfim:
Com dedos e lábios... E teus olhos em mim!

Belo Horizonte, 29/09/2009.

Prostituto

Amor, ainda é noite!
Eu não quero teus afagos.
Deixa o dia amanhecer.

Deixemo-los para a manhã, logo cedo.
Eu sinto o teu peito bater,
Os teus mamilos tesos,
A tua pele quente, onde meu beijo chia...
Eu te sinto desaguar!

Mas se trago os teus sabores
Volto aos teus açoites.

Por isso tenho medo.

Eu preciso antes me ver nos teus olhos,
Preciso saber se estou em tuas retinas.

Bh, 21/09/09

Artífice

Sim, Deus, foste inconseqüente!
Que nos fez de barro, verdadeiro esboço,
E a mulher, parte partida a partir da gente.

Da argila nos moldou,
Com toda a imprecisão de artesão iniciante,
Ainda incipiente.
Quando exímio manuseador da lâmina cortante,
Da carne, as modelou,
Já bastante experiente.

Da costela, deu-lhes as curvas,
Da carne, o desejo...

E a nós? Olhos!
Para ver, para dar nome às coisas.

E, assim, desde Adão está na cara: mulher-melhor!
Graças a Ti, oh Deus!
Graças a Ti!

Bh-MG, 15/09/2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Nem tudo o que reluz é os óio de minha nega,
Reluz também os meu
Na hora que ela chega.

Depois de pouca conversa,
No quarto a gente chamega.
E sem precisar de muita pressa
A gente não se assussega.

Nem tudo o que reluz é os óio de minha nega.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Poema olhando de cima

Lá de onde eu moro,
Teresina é um tapete de vaga-lumes
Fiado em tecido de escuridão
Pelas mãos caprichosas da noite.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

As mulheres não sabem o que fazem


Sinceramente, o que as mulheres pensam que nós somos? Elas são capazes de cometer maldades sem tamanho. Delas que nos encontram e pensam que não somos de carne e osso (e malícia!?, vá lá!): nos tacam um abraço, de cima abaixo, nos apertam contra si, dizem que estavam com saudade, nos olham nos olhos, nos falam perto da boca... Afinal de contas, para que servem os ouvidos? Perguntinha para elas.
Outras, sem a menor prudência, nos mandam e-mail, recados quaisquer tratando de assuntos profissionais, e finalizam mandando um beijo; pior, beijos. Cadê o profissionalismo? Ah! É demais para nós. Elas nem se lembram que têm a maldade inata. Não podem estar fazendo essas coisas, não! Evas perversas, peçonhentas. São sinuosas, como é o andar das serpentes. Têm os braços arredondadinhos, as carnes macias...
Diferente de nós ­– que, quando não temos o bucho etílico, mais parecemos triângulos com um dos vértices para baixo, piões - elas têm os quadris mais largos que os ombros. Que beleza! Já perceberam que sentar do lado de um homem no ônibus é a coisa mais esquisita do mundo: fica batendo ombro com ombro. Dois triângulos na mesma posição. Sentar ao lado de uma mulher é diferente, não tem problema algum: são dois triângulos que perfeitamente formam um quadrado.
Algumas que nem nos conhecem cometem o disparate de nos olhar dentro dos olhos: seja com calma, seja com ternura, seja com malícia, seja lambendo os lábios, não importa. Nos fazem ebulir do mesmo jeito. Criam um tumulto dentro de nós.
Mas não é só isso não. Elas não estão nem preocupadas com os decotes, com as lascas no vestido, com o vestido colado ao corpo, com a cinturinha desenhada pelo vestido. Não, o pior é que (devemos reconhecer) elas se preocupam sim: fazem uso dessas maldades só para nos provocar. É tudo para nos açoitar. Vocês pensam que não? Têm alguma dúvida disso?
Elas também não estão nem aí para os cabelos. Andam com eles ao vento. Deixam o vento disseminar seu cheiro por aí. Ah! Pecadoras, quanto mal nos fazem. Deveriam andar de cabelo sempre preso, de quadris sempre comportados, de decotes menores, sem lascas no vestido, sem vestido colado. Mas não: adoram mesmo é nos provocar, querem nos ver acabados...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

All secho


O pé-de-cachorro entre Fulano e Sicrano

A confusão começou assim.
O Sicrano tinha uma dívida lá no bar do Fulano. E o Fulano deixava a dívida pendurada lá no alpendre, pra todo mundo ver. Por causa disso, já tinha entre os dois um certo nhenhenhém, e eles não se cheiravam de jeito nenhum.
Mas o caldo engrossou mesmo foi porque, quando deu um dia, o Sicrano, querendo bem dar água aos bodes, foi inventar de passar defronte o istabilicimento do Fulano.
Nesse mesmo momento – com a budega cheia de gente, inclusive o Beltrano, caboco aumentador de conversa que era danado–, o Fulano ia saindo pro terraço pra bater as botas, que já eram velhas, cheias de lama seca de tanto já ter caminhado. Vendo o seu desafeto passar com a maior cara de santa-feme, Fulano, de lá mesmo, pegou ar e, enfezado, jogou uma pilera, grande, no Sicrano.
Moço, por um fiapin vei de nada, mas foi pelo peido duma gata mermo, a pilera num pegou bem no cachaço do Sicrano. Se ele não tivesse tirado o corpo do ponto, a história já ia ter que acabar aqui mesmo.
Mas Sicrano foi sabido, deu com o corpo de revestrés e, querendo pagar na mesma moeda, caçou, e achou bem ali de junto dele, um palavrão desaforado, e mandou de lá pra cá.
O palavrão vei certin no rumo, e foi bater justo e abotoado foi nas pontas do dono do buteco. O Fulano ficou muito injuriado:
-- Um porra daquele ainda ter coragem de amarar os bodes na frente do meu bar. Corno era ele.
Aí o negócio fedeu.
Os dois ingancharo os bigodes de vez. Se engalfinharam. E, vendo que a coisa mudou de cor, não teve quem se intrometesse. Por isso mermo foi que Seu Ninga foi tentar separar.
A briga tava era feia. Ainda mais quando, tomando forgo por um instante, o Fulano ofendeu o Sicrano, dizendo que todo mundo sabia que o caba não gostava de feme.
Rapaz, foi na mesma da hora que Sicrano mudou de pau pra cacete, e o Fulano, para não ficar pra trás, correu a mão numa pedra. Aí mermo, meu amigo, foi que Seu Ninga teve a coragem de desfazer o bafafá.
Depois do acunticido, no frigir dos ovos, o resultado da pendenga num pudia ser outro: naquele mermo dia, o Sicrano deu água aos bodes, e o Fulano bateu as botas mais cum poca.

Teresina, 29 de maio de 2009.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O matuto e o banheiro dendicasa

I
Mas tinha e tem tanta terra
A rica dona Milu
Que as hectare de cabeça ela erra
E de cabo a rabo as sua terra
O caba oiando só vê lá longe o azul.
E é terra de muito valor
Herdada de gunvernador
Lá pras banda da zona Sul.

Mas num tô lhe dizendo, rapaz,
Que só outra coisa ela tinha mais,
E eu vou dizer pro sinhor:
Sô, eu nunca pensei e nem vi,
Pelos anos que vivi,
Aquele tanto de morador.

Começando no beiço do rii,
Lá pras banda do pé de piqui,
E trevessando a pista inda tinha,
No rumo da igrejinha,
Na bêra da lagoa e inredor do pé de cajá
Era agregado pra danar,
Que até grupo escolar lá tinha.

E se de família política ela era
E querendo “limpar” sua propriedade
Propôs um dia uma idéia “sincera”,
E “boa” pra toda a comunidade:

Construir uma vila pra juntar todo morador
Numa “bela e acessível região”.
E assim, nessa livre e espontânea pressão,
Foi que a construção começou.

Chegou agrimensor e topógrafo.
“Topófo? Ô caba do nome fei!
Mas é nome de profissão ou de batismo?”
“Cumpade, aí eu num sei.
Sei que de ingeiero a urêa
Lá da cidade foi muita gente que vei”.

E limparam o pedacim vei de chão.
E marcaram terreno por terreno.
E era uns pedacim vei tão piqueno
Que sendo redondo era um botão.

Óia! Pensaro que eu ia falar fiofó. Não.
Que pode ter moça lendo
E lá do céu tão me vendo
E Deus me livre excomunhão.
Assim nem a conversa tando boa
É melhor deixar de loa
E voltar pra construção.

Sim! Fizero os buraco no chão,
Infiaro barro, massa e peda.
Carro-de-mão dizendo “Disarreda!”
E foi se mudificano a região.

Rapaz, a ligereza tão grande que era
Que quando o mestre dizia “Rumbora!”
Um égua gritava “Açulera!”
E um puxa saco “Cuma é?!
Vocês num sabe que A Muié
Quer derrubar, logo, toda tapera?”.

II
E quando tava as obra nessas altura
O matuto chegou mei-dia da roça,
E de casa viu a vila tomando figura,
Que, cum dinheiro, a coisa se esboça,
E se tacou pra lá aquele criatura,
Por que matuto num pode ver muvimento,
Vê mermo se tem cabimento,
Que logo se alvoroça.

Era tão grande aquela correria,
Num tem conde um caba em três se disdobra?
Rum, num era só isso, não.
Lá curria tanto pião,
Que quando ele chegou na obra,
Era que nem trânsto de catita que via.
E, intrapaiando, pegou a tar vendo tudo,
Ispiou que um dos quarto era miúdo
E quis saber sua sirventia.

“E esse quartim aqui,
Que é miúdo que só?
Se for pra ser o paió
Num cabe nada de ligume.
Se for pussive lhe peço:
Num tem um maior que me arrume,
Pra mode butar também bregueço?”.

“Vá me disculpando, seu moço,
Que bosta nenhuma apita um pedreiro,
E é por isso que esse puder eu num tenho,
Que essas casinha tudo têm o mermo desenho.
Só se o sinhor falar cum doutor ingenheiro,

Mas quero dizer primeiro
Que esse quartim isquisito,
Miúdo que só piriquito,
É na verdade o banheiro.”

Quando o operário lhe disse
Que ali seria o banheiro,
O matuto disse “Vixe!
Se isso é lugar de caguero.

Me admira um doutor,
Esse tal de arquiteto,
Um homi demais sabedor!
Que vi dizer ser tão isperto,
Desenhar uma porquêra dessa.
Pois o senhor que lhe peça
Tirar dessa casa o cagador.

Tô vendo que o fim do mundo num demora!”
E sem ainda tá acreditando,
O matuto continuava, intiriço, budejando
“Tá vendo essa esculhambação agora?

Dizer um negoço desse pra mim
Se eu num sô nem passarim
Pra cagar no mermo canto que dorme.
Intão vá no doutor e informe
Que cagar no mermo lugar que a gente mora
Só tando dento duma gaiola.
Nem se eu tivesse bêbo me cagando em butiquim!.

Uma porquêra dessa eu num uso.
Onde diabo que eu vou me misturar cum merda!
Que quem caga sem sair da casa é buso,
Que mermo sendo uma criatura lerda
Quando dá vontade de cagar
Num inventa uma porquêra assim,
Caga mas sai do camim
Mermo sendo divagar”.


III
Sentado na sombra dum pé de pau
Tava o doutor ingenheiro
Que ouvindo aquele cunverseiro
Foi disfazer o jirau.

“Não se preocupe, meu senhor,
Que o que está chamando de cagador
Não vem a ser nem uma sentina
Com uma porta apenas de cortina
Ou um banheiro sem ralo sinfonado.
Este banheiro nada contamina
Não tem nada de latrina,
Fique o senhor sossegado”.

“Assussegar que nada!
Que a verdadeira cagada
A gente dá é no mato.
Mermo tendo o carrapato,
E tendo o tempo da mutuca
Ou uma porca véa caduca
Que apareça pra chafurdar,
Num ixiste lugar mió de cagar
Que num seja uma ponta de mato”.

“Entendo sua desconfiança, então,
Por se tratar de algo desconhecido
Mas o vaso tem sifão
Não precisa ficar aborrecido
E quando usá-lo uma vez
Esse comentário que fez
Logo será esquecido”.

“Horre diabo de sifão!
Que eu nunca nem vi falar.
Mas num quero saber, não,
Pra mode nem baldiar.
Como é que pode ser
O mermo lugar de comer
De dormir e de beber
Tá dijunto donde cagar?”

“Mesmo sem querer saber
Insisto em explicar para você
O que vem a ser sifão
Querendo o senhor ou não:


Trata-se de uma espécie de barreira
Contra o mau cheiro exalado
Que mesmo estando com caganeira,
Me desculpe o termo empregado,
O senhor não sentirá nenhum mau cheiro
Depois que sair do banheiro.

E ainda garanto para o senhor,
Não é necessário que tema
Fique mesmo sossegado,
Que por meio deste sistema
O gás fétido, seja qual for,
Não importa o tipo do fedor,
Do bom cheiro fica sempre separado”.

“Num pense que sô mané-minha-égua
Cuma muito desses fela-da-mãe.
E digo ainda pro sinhor, aí cum sua régua,
Nem que mil casas dessa eu gãi,
Eu é que nunca vou aceitar,
Purque num lugar de cagar
Eu também num tomo bãi.
Na cidade o povo aprende de um tudo
Mas me admira a pessoa com tanto istudo
Inventar uma porquera desse tamãi?”


IV
E foi assim que se passou
A estória desse matuto
Que sendo bom vivedor
Num deixou de ser astuto:

Fingiu que tudo aceitou,
Sem ter outro canto pra morar!
Mas por não deixar caroço em angu
E que nunca fez cocô
Só faz mesmo é cagar
Lá, nas terras da dona Milu.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Fogosa

Senta-se, dizem, de mal jeito.
Mas é só pra me mostrar a calcinha.
É folgada, falam por despeito.
É fogosa, digo na minha.

Nota de rodapé: o foram é estilístico

Por ocasião de um crime

Esse povo que não tem o que fazer
Se é de tirar a medida do cu pra vender
Ou pra remendar uma tanga
Não!
Foram foi inventar
Por instinto do cão
De cortar o pé de manga.