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Teresina, Piauí, Brazil
Ah! Meu coração é mole/ Feito língua de moça./ Prefiro a calma a usar a força,/ Que carne de gado criado em morro é muito é ruim:/ Dura danada.// No bombardeio ergo sempre a bandeira branca,/ Cor que cedo não quero em minha trança,/ Mesmo que digam que é experiência.// Antes mesmo de tantos lamas e Ghandi,/ Foi que se inventou a calma dos monges./ Apesar dos últimos incidentes no Tibete. - Tapuia. Mestre em Letras/Linguística pela UFPI. Professor. Arre(medo) de poeta. Artista (de)plástico nas horas vá(ri/g)as. Aquele que nasceu no rio.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SOBRE O TAMANHO DAS COISAS

Aparentemente – apenas aparentemente mesmo! – tudo cabe num bolso. Um boletim com notas reprovativas cabe facilmente num bolso de estudante. Mas aí o cabimento se explica mais pela pequenez das médias que pelo tamanho do papel. Porque, quando a mãe vê, diz, por outro lado, que não tem cabimento de jeito nenhum... Dois pares de chinelos antes do passeio na areia também cabem, se encaixam perfeitamente num bolso; parece até que estão namorando. E por isso mesmo cabem.
Mas algo, um certo dia, me pareceu incabível: um molho de chaves pendurado no cós do calção de uma criança. O menino, sendo criança, brincava com terra, graças a Deus!, porque brincar com terra é algo que seus dias comporta, é cabível à sua idade, é inclusive um direito que, na Lei, assiste a toda criança. Podem conferir. E a infância termina sendo tão curta que nela quase não cabem tantas brincadeiras...
Por isso a minha única surpresa foi terem deixado aquele menino brincar com tais chaves, afinal elas poderiam se perder na areia, na lama. Até que me explicaram que nenhuma delas tinha serventia. É que aquele meninozinho (não por acaso um menino), com seus quatro, cinco anos, achava bonito andar com chaves penduras na alça do calção. Daí a avozinha pegou umas chaves aposentadas, fez delas um molho e deu à criança, que agora, na maior felicidade do mundo, ostentava seu molho de chaves, que jamais caberia naquele bolsinho sem fundo! Aí foi que vi que aquelas chaves serviam sim. E o quanto uma chave vale!
Ora, se um maço de dinheiro que não coube na cueca nem nas meias cabe, e bem, num bolso. É bem capaz que ali caiba um quase-tudo. Se até o Ronaldinho já coube num bolso. Quem não soube? Nunca ouviram alguém dizer que o jogador tal-e-qual colocou o Fenômeno no bolso? Um Fenômeno no bolso!
Mas isso é claramente crível, já que coisas que não tem nem cabimento do nada cabem em algum lugar. Uma reza pra comemorar falcatruas políticas, que talvez não caiba nem sob nem sobre o Céu, cabe num gabinete político. Ih, este exemplo me foi péssimo, afinal de contas, em política tudo parece caber quase que perfeitamente debaixo dos panos. São os camelos que passam pelo furo da agulha. Explique-se. Enquanto isso o preço do feijão, por exemplo, independentemente do tamanho da fome (gula?), não cabe no tamanho do salário-mínimo. Oxe, se não coube nem no poema do Gullar. Do mesmo modo, já perceberam que um jaleco branco ou um vademecum (este que até nega a expressão latina) quase nunca cabem numa mochila?
Ah, meu Deus, tantas são as coisas que existem sem ter tamanho! Quantas vezes o amor nos faz acreditar que o coração não cabe mais no peito? Que a ira nos obriga a constatar que a saliva não está cabendo na garganta? Mas o que agora, de repente, passa a me intrigar mesmo, a partir da “brincadeira” daquela criancinha, é que, se tanta coisa cabe num bolso (e isso parece óbvio!), porque não cabe num bolso a chave dum automóvel?

Nilson Costa Filho
Codó, 02 de junho de 2010.

7 comentários:

Leila Rachel disse...

Genial, Nilson! Genial!!!

Lourdilene Vieira disse...

Adorei!!!!!!!! Muito, muito, mas muito massa... Além do tema tratado, o estilo da escrita é muito, muito, muito Zé Nilson!! Parabéns!! rsrs

Bruno de Castro disse...

Maroia... essa prosa é bem cabivel nesses tempos... kkkkk
Nilsão, Parabens com "p" maiusculo... É um pudim de macacheira saindo do forno... kkkkkkk
Bem bacana esse texto!!!!

Luciana Lís disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luciana Lís disse...

Muito espirituosa essa travessia que vc fez - da infância [com tantos detalhes e eu até já tinha esquecido] até a vida adulta. Ou começo dela. E convenhamos, como é delicada.
Muito bom, Nilson!

Unknown disse...

Lembrei-me de tanta gente depois que terminei de ler ! kkkkkkk
Parabéns pelo texto!

Anônimo disse...

ate a leila cabe nu bruno.......